Às trabalhadoras e trabalhadores do mundo,
Companheiras e companheiros de luta,
Em meio a um mundo marcado pela exploração, hierarquias opressoras e a concentração do poder nas mãos de poucos, a Liga Internacional Anarcossindicalista reafirma seus princípios fundamentais, guiados pela convicção de que a libertação da humanidade só será alcançada através da ação direta, da solidariedade de classe e da construção de uma sociedade baseada na autogestão e na igualdade radical.
Internacionalismo, Anticolonialismo e Antiimperialismo: Pilares da Libertação Global
Às comunidades em luta, aos povos oprimidos e àqueles que resistem nas brechas do mundo:
O internacionalismo, o anticolonialismo e o antiimperialismo não são meras bandeiras ideológicas, mas alicerces de uma luta interseccional pela emancipação humana. Enraizados na crítica radical ao poder — seja ele estatal, capitalista ou colonial —, esses princípios revelam-se urgentes em um planeta ainda marcado por fronteiras que separam exploradores e explorados, colonizadores e colonizados.
Internacionalismo: A Luta Não Tem Pátria
O internacionalismo nasce da compreensão de que a exploração é um sistema global. Enquanto o capitalismo e os Estados nacionais fragmentam os trabalhadores através do nacionalismo, do racismo e das guerras por recursos, o internacionalismo propõe a união transnacional dos oprimidos. Não se trata de negar culturas ou identidades, mas de reconhecer que a luta de um camponês na Índia contra o agronegócio é a mesma de um indígena na Amazônia expulso de suas terras, ou de uma operária em Bangladesh explorada por multinacionais.
Para os anarquistas e revolucionários, o internacionalismo é práxis: greves coordenadas além-fronteiras, redes de solidariedade a refugiados, apoio mútuo a movimentos de libertação. A Comuna de Paris (1871), a Revolução Espanhola (1936) e os protestos globais contra a OMC nos anos 1990 são exemplos históricos de como a ação coletiva transcende barreiras geográficas. Hoje, coletivos como a Solidariedade Internacional Libertária mantêm viva essa tradição, conectando lutas locais a um projeto universal de libertação.
Anticolonialismo: Derrotar o Legado da Dominação
O anticolonialismo é a resistência contra a violência histórica do colonialismo — não apenas a ocupação territorial, mas a imposição de culturas, economias e hierarquias raciais. Do genocídio indígena nas Américas ao saque da África e da Ásia, o colonialismo moldou um mundo onde países do "Sul Global" seguem subjugados por dívidas externas, extrativismo e governos fantoches.
Mas o anticolonialismo não é nostalgia do passado pré-colonial: é um projeto de futuro. Figuras como Frantz Fanon e Lúcia Sánchez Saornil denunciaram que a independência formal não basta se as estruturas de opressão (racismo, patriarcado, elitismo) permanecem. Por isso, movimentos como o Zapatismo no México e o Kurdislão (Rojava) não só combatem o Estado, mas constroem autonomias baseadas em autogestão, ecologia e igualdade de gênero — mostrando que descolonizar é também despatriarcalizar e desmercantilizar a vida.
Antiimperialismo: Contra a Exploração Sem Rosto
Se o colonialismo clássico usava tanques e bandeiras, o imperialismo moderno veste-se de "livre comércio", "ajuda humanitária" e acordos de dívida. Corporações como a Bayer, a Shell e a Amazon operam como Estados paralelos, ditando políticas que devastam ecossistemas e precarizam o trabalho. Enquanto isso, potências como os EUA, a China e a UE mantêm seu domínio via bases militares, sanções econômicas e controle tecnológico.
O antiimperialismo, portanto, não se limita a confrontar invasões militares (como as guerras no Iraque ou na Ucrânia), mas ataca a raiz do problema: a lógica de acumulação capitalista que transforma seres humanos e natureza em commodities. A luta contra o imperialismo é a luta dos povos palestinos contra a ocupação israelense, dos haitianos contra a ingerência da ONU, e dos camponeses filipinos contra o agronegócio transnacional. É a recusa a aceitar que o "desenvolvimento" signifique a morte de rios, florestas e culturas.
A Ligação das Lutas: Um Só Fogo, Múltiplas Chamas
Essas três frentes — internacionalismo, anticolonialismo e antiimperialismo — são indivisíveis. O imperialismo sustenta-se no colonialismo interno (como o tratamento aos povos originários no Canadá ou aos negros nas periferias brasileiras), enquanto o internacionalismo é a ferramenta para romper a alienação entre as vítimas do mesmo sistema.
Quando os Mapuche no Chile resistem à privatização de suas terras por empresas europeias, estão praticando anticolonialismo e antiimperialismo. Quando sindicalistas europeus boicotam produtos fabricados em zonas francas asiáticas, estão exercendo internacionalismo. Quando mulheres curdas defendem Rojava contra o Estado Islâmico e o Estado turco, estão unindo todas essas frentes em uma revolução que é, ao mesmo tempo, feminista, ecológica e antiautoritária.
Pela Globalização da Resistência
Não há libertação possível em um único país, assim como não há justiça sem destruir as amarras coloniais e imperiais. O desafio é construir uma globalização alternativa à do capital — uma internacional de povos livres, autogestionários e solidários. Isso exige:
1. Desobediência às fronteiras criadas para dividir os pobres.
2. Solidariedade ativa com as lutas anticoloniais, reconhecendo que o Norte Global deve reparações históricas.
3. Boicote às corporações imperialistas e apoio a economias locais e cooperativas.
4. Denúncia da militarização, que sustenta impérios através da violência.
Como disse o revolucionário argelino Mohamed Saïl:
"Nossa pátria é o mundo inteiro, nossa lei é a liberdade."
Que essa convicção guie nossos passos até que nenhum povo seja dono de outro, até que nenhuma fronteira justifique a exploração, até que a terra pertença a quem a cultiva e a vida a quem a vive.
Pela autonomia dos povos e a abolição de todos os impérios,
Um internacionalista na luta.
Nossos Princípios:
1. Autonomia e Descentralização
Rejeitamos toda forma de autoridade imposta — seja estatal, patronal ou hierárquica. Defendemos a organização descentralizada, onde as decisões emanam das assembleias de base, garantindo que cada indivíduo tenha voz direta em seu próprio destino.
2. Ação Direta e Solidariedade
A transformação social não será concedida por decretos ou parlamentares, mas conquistada pela ação direta das trabalhadoras e trabalhadores: greves, boicotes, ocupações e a criação de estruturas alternativas ao capitalismo. A solidariedade entre todas as classes oprimidas é nossa arma contra a divisão e a exploração.
3. Autogestão Operária
Os meios de produção devem pertencer a quem os opera. Lutamos por fábricas, campos e serviços geridos coletivamente pelas trabalhadoras, sem patrões ou burocracias sindicais corruptas. O trabalho deve servir à comunidade, não ao lucro.
4. Federalismo Livre
Organizamo-nos de baixo para cima, em redes federativas onde comunidades, sindicatos e conselhos locais cooperam voluntariamente, preservando a autonomia de cada grupo. Rejeitamos centralismos autoritários, sejam de Estados ou de partidos políticos.
5. Anticapitalismo e Antiestatismo
O capitalismo e o Estado são faces da mesma moeda opressora. Combater um exige combater o outro. Não há reforma possível dentro de um sistema que subsiste na dominação — só sua destruição radical e a construção de novas relações sociais.
6. Internacionalismo
A luta não conhece fronteiras. Rejeitamos o nacionalismo e unimo-nos às trabalhadoras de todos os países contra a exploração global. Nossa força está na união transnacional dos oprimidos.
7. Sindicalismo Revolucionário
Os sindicatos não são meros negociadores de salários, mas ferramentas de transformação. O sindicalismo que defendemos é combativo, classista e anticapitalista, preparando a classe trabalhadora para assumir o controle da economia e da sociedade.
8. Apoio Mútuo
Inspirados por Piotr Kropotkin, entendemos que a cooperação — não a competição — é a base da sobrevivência e da prosperidade humana. Construímos redes de apoio mútuo para sustentar nossa resistência e criar embriões do futuro livre.
9. Educação e Cultura Libertária
A emancipação exige consciência. Promovemos escola populad, cultura anticapitalista e a crítica constante às ideologias dominantes, para que cada pessoa possa romper as correntes da submissão intelectual.
10. Pela Revolução Social
Não almejamos tomar o poder, mas destruí-lo. A revolução anarcossindicalista será a abolição de todas as estruturas de dominação, substituindo-as por uma sociedade baseada na liberdade, na igualdade e na gestão coletiva da vida comum.
Convocatória Final:
Companheiras e companheiros, o caminho é árduo, mas necessário. Não depositamos fé em salvadores, nem em urnas — depositamos fé em nós mesmos, em nossa capacidade de organizar, resistir e criar um mundo onde cada ser humano viva com dignidade, sem senhores nem escravos.
Junte-se à luta. O futuro pertence a quem ousa construí-lo hoje.
Pela Anarquia e pelo Sindicalismo Revolucionário
Liga Internacional Anarcossindicalista
"A liberdade não é um presente — é uma conquista." _ Rudolf Rocker